Translate

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A excepcional caçada de Nhonhas



Os pioneiros, em terras brasileiras, criaram os relatos das caçadas ímpares. Inclui-se aí a brincadeira da caçada das Nhonhas. Uns singelos bichinhos inexistentes, moradores dos brejos, matas e roças, próprios para fisgar os extremamente chatos e espertos; contadores de excepcionais vantagens e “contínuos donos da razão”.
Os forasteiros, advindos das paragens mais distantes do país, afluem às comunidades de colonização alemã. Eles cedo ganham a amizade e simpatia da alemoada. Os naturais querem ouvir histórias das origens, no que alguns exageram na dose das espertezas e narrações. Compreendem-se muito astutos e espertos para os pacatos moradores. O pessoal convida os falantes para alguma caçada. A prática consiste em apanhar Nhonhas, dizem ser do tamanho dos preás no interior dos lugares o qual são retirados. O forasteiro ganha a sublime missão de parar e abrir o saco no contexto de algum trilho. Os colegas, em número variado de umas poucas unidades, tratam de entocar os bichinhos. Estes, adoidados em função da algazarra e correria, procuram refúgio na primeira possibilidade de toca. Sucede-se, em meio ao desespero, destes entrarem no saco e o abridor fechá-lo no momento oportuno. O curioso, os ditos amigos, abandonam  sua função; dirigem-se para casa, em meio às gargalhadas,  deixam o ingênuo “plantado” até desconfiar do trote aplicado.
Sucedeu-se, num encontro de jovens (de determinada confissão religiosa), prenderem um bichinho desses. O povão tinha ouvido falar das Nhonhas, porém nunca tinha visto alguma. Este muito bem acondicionado e guardado numa caixa (deveras fechado), pode ser apreciado/enxergado. Procurou-se, no interior duma sala, colocar a caixa com o animal. Os curiosos, sob coordenação duma dupla de estudantes, puderam vislumbrar a espécie.
Cuidou-se, em função de ser extremamente arisca, deixá-lo olhar de um em um. Uma fila quilométrica cedo constituiu-se a  partiu-se a apreciação. Os guardadores alevantam a tampa do caixote e, no fundo, no reflexo do espelho vêem a Nhonha. Um animal diverso conforme as aparências de cada qual. O resultado foi de extrema gargalhada e vergonha com a exagerada curiosidade. Os participantes, tendo uma vez visto o bichinho, não faziam questão de apreciar uma segunda. A imagem, até os dias finais da existência, ficou-lhes gravada na memória. A Lenda das Nhonhas ("Till-tasf" no alemão) mantém-se uma história teuto-brasileira. As esporádicas caçadas, com o esclarecimento cultural na era da comunicação (da globalização), mostram-se momentaneamente desativadas.
Preservou-se o ensinamento básico: “-O excesso de curiosidade costuma levar ao ridículo”. Cuidemo-nos para não embarcar nalguma furada semelhante! As brincadeiras, sem muitas explicações, são a forma mais derradeira de ensinar certas lições inesquecíveis da vida.

Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://www.novomilenio.inf.br/bertioga/bh004d2.htm
Imagem meramente ilustrativa.


2 comentários:

  1. Gostaria de publicar esta materia no face e possivel

    ResponderExcluir
  2. Olá! Pode publicar o texto no Facebook. Apenas mencione o nome do autor do texto (Guido Lang). Agradecemos o contato! Abraço!

    ResponderExcluir