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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A pedra metida


        
          Uma pedra de médio tamanho, recém descoberta pelas águas do córrego, se encontrou perto de um agradável bosque onde iniciava uma trilha de campo ladeada de grama e de coloridas flores campestres. A pedra seguidamente olhava para baixo e via outras pedras, iguais a ela, colocadas em ordem numa bela estrada. Teve vontade do rolar lá em baixo pensando: “Que estou fazendo eu aqui no meio desta grama? Seria bem melhor se eu morasse com as minhas companheiras”.
Tanto fez que rolou entre as companheiras, terminando na bela estrada movimentada. Começou dali a pouco a ser empurrada pelas rodas dos carros, pisoteada pelas ferraduras dos cavalos e pelos pés dos viajantes, e assim, rolada, amassada, lascada, sujada pelo barro e pelo esterco dos bois e dos cavalos. Em vão olhava para o alto de onde tinha saído, lugar solitário e tranquilo.
Isso acontece àqueles que, acostumados a uma vida solitária e contemplativa, passam a morar nas cidades, entre pessoas carregadas de problemas sem fim (Leonardo da Vinci).

            (Fonte: Martellini, Antônio. Livro: Clonagem, Apocalipse e Outras Fábulas).

Crédito da imagem: http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2011/08/casta-adolescencia-mons.html

O churrasco impróprio



         Um  certo proprietário, com o abandono dos filhos do meio colonial e a propaganda do sucesso financeiro na silvicultura, encheu as terras com mato. O eucalipto, junto a alguma acácia, tornou-se rei numa magnífica terra plana. Um solo arável e fértil, próprio à mecanização (agrícola) e possibilidades de três safras (anuais), para produzir madeiras. A silvicultura, no máximo, uma colheita a cerca de sete a dez anos (investimento com retorno monetário muito demorado).
Um colega agricultor, com variado implemento e maquinário, disse-lhe: “- Não faça essa loucura! Deves abster-se de seguir os receituários do pessoal com terras nas baixadas (encharcadas/úmidas) e morros. Pensa em criar algumas vacas/terneiros. Eles dão carne/leite ao abastecimento familiar e urbano”. O proprietário, no contexto da empolgação (com a onda do eucalipto), pouco ouvido dispensou. O princípio dominante, na época (entre os anos de 1980 a 2000), consistia em “deitar na cama e deixar o pau crescer”. Um mato esbelto e saliente, na sua outrora área arável, cedo formou-se no contexto colonial. Uma vigorosa plantação de eucalipto, em meio à comuna, acabou vislumbrada (de longa distância por forasteiros e moradores).
Uns anos transcorreram e a fartura de madeira tomou corpo/sentido. O carvão e madeiras (em metro) tiveram baixo preço. Dificuldades de colheita e falta de mão de obra tomaram vulto. Ninguém almejava colher. Eventuais interessados queriam avolumar fortunas (“desejam ganhar horrores”). Os dispêndios, com contratação de cortadores e maquinário, consomem as eventuais possibilidades de lucros. Estes, diante do novo quadro, nem custeiam aos encargos do maquinário de arrancar as cepas/tocos. O eucalipto cria tocos e inviabiliza as possibilidades de mecanização. Fica difícil e oneroso reaver as outrora áreas agrícolas e devastar o mato.  Ele, com a brotação massiva, cedo retoma o cenário original. A legislação ambiental coloca empecilhos em reaver espaços agrícolas e, no final, deixa-se de gerar renda familiar e tributos.
O proprietário, depois de uns anos, retomou a conversa com o plantador. Sentia-se profundamente arrependido por não ter dado ouvidos ao conselho. Deixou de criar terneiros (carne aos seus preferidos churrascos), plantar milho (à silagem), soja (à exportação e rações)... Deixou de faturar/ganhar boas somas (com a carne, leite e soja “as nuvens”). O rural, numa conversa informal, reforçou o arrependimento: “- Precisas, no momento, assar eucalipto como carne! Adoras tamanho o teu churrasquinho de final de semana e paga exorbitâncias às carnes. Como vais derrubar todo esse mato? O lucro não cobre os dispêndios de máquinas? Imagina essa formidável área tomada de milho, soja, trigo? Quê capital?”. O cidadão sentiu remorsos da outrora precipitação e impróprio investimento.
Áreas próprias à mecanização inconvêm reflorestar. Certas atitudes precipitadas causam arrependimentos e remorsos. Os negócios agrícolas oscilam muito aos sabores do contexto das oscilações econômicas. Algumas concepções ambientais merecem uma revisão de legislação.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://peladadealdeia.wordpress.com/2010/06/22/churrasco/