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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Área imprópria


Um certo casal de enamorados, filhos de famílias numerosas, não teve maiores auxílios paternos. Eles, na proporção de constituírem sua família, precisaram economizar e labutar pesado para angariar alguma terra. “O colono que casa, quer casa/terra” pelo princípio colonial. Este, de maneira geral, não aceita, por muito tempo, labutar como arrendatário ou meeiro.
A falta de terra, dos iniciantes, levou a olhar algum lote. Uma área duma dezena de hectares. As muitas e volumosas pedras, onde “o diabo arrebentou o saco e perdeu as botas”, encontraram-se a dominar o cenário.  O dinheiro, muitíssimo escasso, permitia somente comprar essa singela área. Podia-se, graças às dádivas divinas, “morar debaixo do próprio chão e labutar na própria terra”. A dificuldade e interrogação consistia em como sobreviver naquele torrão íngreme e pedregoso.
O casal rural, criado na dureza da força braçal do interior e penúria familiar das colônias, fechou o negócio. Algum crédito, como descendente de família conceituada e tradicional, sempre mostrou-se possível nas colônias. Os pais dos empreendedores, no entanto, precisaram dar o aval da confiança. A palavra empenhada valia como nota promissória. Os jovens compraram o imóvel. As dúvidas imediatas consistiram: como criar gado, cultivar cereais, implementar frutíferas, semear pastos naquele chão?
A solução, depois de semanas de instalação e convivência naquele ambiente (com construção dum edificado de madeira), foi reparar os matos e possibilidades de roça. A vegetação, em função da umidade assegurada em meio às pedras e ausência maiores dos rigores das geadas, crescia adoidada. Qualquer brejo, em poucos meses e anos, via-se rejuvenescido como mato. A floresta cedo parecia retomar seu hábitat. A produção de lenha era digna de admiração na proporção do corte. Quaisquer plantas, em pouco tempo, tinha-se rejuvenescido nos espaços das derrubadas. A excelente insolação era outra causa desse milagre florestal.
A solução, à sobrevivência, encontrava-se neste segredo. A prática agrícola e sabedoria econômico-financeira consistia em reflorestar com espécies exóticas (acácia e eucalipto). Alguma área, menos pedregosa, via-se aproveitada às culturas de subsistência. Algum aipim, feijão, hortaliças, milho e verduras, não poderiam ser renegados para o colono. Idem as criações, como galinhas, porquinhos e vaquinhas, suplementaram a empreitada rural. O resto da área com a silvicultura. O segredo dos dividendos encontrava-se na comercialização das madeiras (em metro). Procurou-se, no ínterim, fabricar algum carvão vegetal. Um trabalho judiado, porém rendoso.
Cada centavo avolumado via-se economizado como poupança (uma economia de guerra).  A família, agora com filhos menores, podia cedo comprar mais alguns hectares. O empenho familiar, vendo os frutos da labuta, fazia aumentar a produção. O vigor das bananeiras, a título de consumo familiar, complementou dividendos produtivos. Colmeias de abelhas, com a intensa insolação, ganharam espaço como “fábrica de mel”.
Cada área, por mais acidentada e imprópria, tinha sua nobre função econômica. O proprietário, através da observação atenta, precisou vislumbrou o potencial e colocou em prática as oportunidades.  Olhos atentos e espírito trabalhador revolucionam quaisquer espaços. Que para uns mostrou-se uns tremendos empecilhos/pedras, para família assinalou uma fartura ímpar. A diversidade de dons ostenta-se a riqueza excepcional dos seres humanos.
A capacidade humana de superar adversidades é digna da maior odisseia. O indivíduo, pode ser carente e humilde, precisa, todavia, saber ajudar-se (para inovar e acumular fortunas). As ideias precedem as muitas farturas e riquezas. Conhecimentos e ações enamoram-se como excepcionais apaixonados.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://apascoadodelfim.blogspot.com.br/2010/04/um-pouco-de-cheiro-de-mato.html