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domingo, 24 de março de 2013

A exclusiva dedicação


As pessoas, numa comunidade urbana, admiravam-se de determinado cidadão. Este começou do nada e cedo avolumou tesouros. A família, através deste, tornou-se proprietária de prédios e terrenos.
A riqueza, de forma contínua, somava-se ao conjunto dos seus bens. Alguma quadra, pelas conversas, lhe pertenciam (em localização privilegiada). Uma construção excepcional, como edifício, era outra rendosa propriedade. Muitos o invejavam, outros o admiram pelo amplo patrimônio e mente milionária.  Alguma loja frontal, como fonte de divisa, era o local de escritório e trabalho.
Um conhecido, num certo sábado de manhã, achegou-se ao espaço. Ele queria uma atenção de minutos para uma conversa informal. O cidadão, de imediato, elogiou-o pelo apego e disciplina ao trabalho. As pessoas, nas calçadas e ruas em geral, andavam para atender seus compromissos de compra e folga como final de semana.
O fulano encontrava-se atendendo e labutando (junto ao escasso número de funcionários). Outros, na calada da manhã, precisaram acertar umas contas e verem perspectivas de negócios. Ele, como empresário, marcou as seis da manhã. O conhecido, junto com o filho, achegou-se e encontrou-o tomando chimarrão e repassando as primeiras notícias.
Um pai, diante do filho (como acompanhante), explicou: “- Entendes o fato do sicrano ser dono de tamanho patrimônio? Ele concentra-se e esmera-se na sua ocupação profissional. Este não fica até as dez horas da manhã na cama e daí pensa em iniciar as tarefas. A manhã daí transcorreu e nada de maior produção econômica! As posses tem alguma razão de serem merecidas e não surgem pela mera casualidade!”  Uma referência ao descompromissado filho e adepto de algum soninho (a mais na aurora do dia).
As pessoas ambicionam os bens alheios, porém querem distância dos encargos. Poucos ainda dão a vida pelo trabalho ou a labuta constitui-se na sua filosofia. As mãos milagrosas tem sua explicação de ser e não tem o poder por mera casualidade.  Quem, a cada dia carrega um punhadinho de terra, avolumou uma montanha até o final da existência. “Deus ajuda a quem se ajuda” ou “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Econômico”

Crédito da imagem: http://www.guiadasdicas.com

A raposa e a cegonha


A raposa e a cegonha mantinham boas relações e pareciam ser amigas sinceras. Certo dia, a raposa convidou a cegonha para jantar e, por brincadeira, botou na mesa apenas um prato raso contendo um pouco de sopa. Para ela foi tudo muito fácil, mas a cegonha pode apenas molhar a ponta do bico e saiu dali com muita fome.
-Sinto muito disse a raposa, parece que você não gostou da sopa.
-Não pense nisso, respondeu a cegonha. Espero que, em retribuição a esta visita, você venha em breve jantar comigo.
No dia seguinte, a raposa foi pagar a visita. Quando sentaram à mesa, o que havia para jantar estava contido num jarro alto, de pescoço comprido e boca estreita, no qual a raposa não podia introduzir o focinho. Tudo o que ela conseguiu foi lamber a parte externa do jarro.
-Não pedirei desculpas pelo jantar, disse a cegonha, assim você sente no próprio estômago o que senti ontem.

           Moral da história: 
Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

Crédito da imagem: http://asfabulasdeesopo.blogspot.com.br