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sábado, 13 de abril de 2013

A impossibilidade familiar



Um casal, em meio a uma dezena de hectares de terra, criou nove filhos. Uma esperança para uma velhice abonada e tranquila.
As áreas de encosta, dominadas por roças, levaram a uma penosa labuta braçal. Alguma produção de milho, mandioca e leite permitia a subsistência familiar. Os poucos reais, numas décadas de vivência, viam-se cuidadosamente contados e investidos. Quaisquer dispêndios e imprevistos levariam ao endividamento e ruína financeira.
A família, com “uma escadinha de filhos”, foi sobrevivendo as dificuldades. Esta, numa época, desdobrou-se para atender as muitas necessidades. Os rebentos, com as possibilidades mínimas de educação e formação profissional, conheceram logo a iniciação ao trabalho. Os anos escolares foram restritos a escola comunitária. Eventuais possibilidades, duma educação fundamental, secundária e superior, decorriam do esforço pessoal de cada interessado.
Os rebentos, diante das carências de toda ordem, empregaram-se nas cidades como autodidatas. Eles labutaram e trataram de namorar. A constituição de famílias foi rápida e prevista. Os pais, com a aposentadoria rural, seguiram os filhos (para o ambiente urbano). O singelo lote acabou comercializado e a maioria da área viu-se retomado pelo brejo e mato.
A velhice trouxe a triste sina da realidade da sociedade contemporânea. Os filhos, com seus próprios rebentos, não possuem tempo. Eles necessitam dedicar-se a profissão e ganhar a sobrevivência.  Estes tem carência de tempo para cuidar dos idosos pais. Os genitores, agora anciões, não tem como serem cuidados por algum herdeiro.
 Os familiares obrigam-se a pagar estranhos para cuidar dos genitores. Eles, aos trancos e barrancos, criaram nove. Pai e mãe esperavam de algum descendente cuidá-los na penúria da existência. A alternativa consistiu em improvisar até a chegada do derradeiro!
O indivíduo nunca sabe do infortúnio no aguardo da esquina. Certos exemplos falam por si só como ensinamentos. Os fracassos familiares, com as preocupações excessivas em ganhar dinheiro, tem sido uma realidade social.

Guido Lang
“Singelas da Existência”

Crédito da imagem:http://www.turismo.rs.gov.br

As pombas e o gavião


Perseguidas pelas aves de rapina, as pombas julgaram conveniente valer-se do gavião. Generoso, outorgou-lhes este a sua proteção, e as foi matando e comendo que era um regalo. Entregues sem defesa a impiedoso inimigo: Com, razão padecemos, disseram as pombas; quem nos mandou querer protetores?

Moral da história:
Fujamos de protetores de ofício, especialmente quando são de conhecida avidez e perversidade; caro custa-nos tal proteção.


                              Esopo (Final do século VII a.C. e início do século VI a.C.)

                                                             Crédito da imagem: http://portaldoprofessor.mec.gov.br